IA no centro da estratégia financeira passa a ser obrigatório para CFOs

 *Por Marcelo Silva, Country Manager da Workiva


A IA generativa está dominando as discussões de gestão e as apresentações de empresas de tecnologia há alguns anos, no entanto a adoção no mundo real não está avançando no mesmo ritmo. Um dos principais motivos é que, embora 80% das companhias afirmem que planejam investir mais em Inteligência Artificial, quase um terço dos CFOs não sabe nem por onde começar em termos de uso, de acordo com a pesquisa global da Basware. 


As dúvidas dos CFOs são diversas, geralmente elas ocorrem pelo desconhecimento de como a Inteligência Artificial pode ser parte da engrenagem, ou pelo medo de investir  e não ter o retorno em curto prazo, por não ter dados parametrizados, princípio fundamental para extrair o máximo da ferramenta. 


No início de agosto, a Workiva publicou a Practitioner Survey, uma pesquisa que ouviu 2.300 profissionais de finanças, sustentabilidade, auditoria e riscos. O estudo apontou que 79% dos executivos brasileiros estão muito confiantes na capacidade de sua empresa de usar IA para gerar impacto mensurável, mas os profissionais que efetivamente utilizam já não têm a mesma percepção - apenas 46% têm a mesma confiança. A explicação está na maturidade para adoção da ferramenta, pois a maioria dos entrevistados justificou a resposta alegando que sua empresa carece de elementos essenciais como dados de alta qualidade (61%), políticas de governança e segurança (58%) e treinamentos específicos por função (58%).

A visão dos profissionais está correta. A rápida adoção da IA sem preparo pode transformar ganhos de eficiência em erros dispendiosos e até danos à reputação. Porém há um dilema: os setores financeiros que estruturam a implementação da ferramenta colhem retorno rápido e efetivo, o próprio estudo da Workiva mostrou que 88% dos entrevistados relataram aumento no ROI do uso de IA no último ano. Por isso há uma pressão para que os CFOs integrem IA em suas estratégias e planejamentos. Já é uma nova responsabilidade para a função, e os profissionais precisam estar preparados. 

Existem nove maneiras simples de utilizar a ferramenta com sucesso e salvar a pele das equipes financeiras.

1. IA para redigir narrativas com base em dados:

Um cenário comum para equipes de relatórios financeiros é redigir textos com base em dados financeiros desagregados em uma planilha. As informações estão organizadas, mas analisar as tabelas para identificar padrões e verificar a precisão consome tempo e energia. Todavia, a IA é capaz de fazer uma primeira leitura e trazer uma narrativa sobre as mudanças ano a ano, gerando um rascunho inicial para revisar e editar. 

2. Análise do programa de riscos e controles com IA:
Para otimizar o universo de controles em expansão, basta colocar a IA para trabalhar com questionamentos como “tenho controles duplicados ou sobrepostos? O que devo fazer a respeito? Quais são os riscos adicionais que eu posso ter deixado passar, categorizando por impacto e probabilidade?”. A gama de perguntas é enorme e a IA certa pode fornecer uma análise detalhada dos controles administrativos, físicos e técnicos necessários, além de políticas específicas para proteger informações de saúde (PHI).

3. Acompanhe a concorrência com pesquisas da IA
Normalmente, benchmarks de concorrentes envolvem ler centenas de páginas de relatórios anuais. Nem todos têm mão de obra para ajudar nessa tarefa, mas a Inteligência Artificial mudou esse jogo. Agora, é possível descobrir rapidamente como os pares estão lidando com determinados temas e os reportando, basta utilizar a ferramenta e pedir os destaques.

4. IA traz contexto e consistência com base em conteúdo existente
Quando as ferramentas de Inteligência Artificial estão integradas ao sistema, é possível usar conteúdo interno com os mesmos níveis de segurança. Por exemplo: ao se preparar para uma chamada de resultados, o conteúdo geralmente é confidencial até o último minuto. Mas se roteiro e slides estão no mesmo espaço seguro com IA, ela permite gerar insights rapidamente, como perguntas que analistas podem fazer e sugestões de respostas. 

5. Criar modelos de governança e narrativas com frameworks de mercado
Imagine ter um assistente de IA atualizado com os principais frameworks — ISSB S1, GRI, CDP, COSO, NIST — sem precisar decifrar essa “sopa de siglas”. Profissionais de sustentabilidade enfrentam esse desafio ao tentar atender a normas globais, como os Padrões Europeus de Relato de Sustentabilidade (ESRS). A IA permite ter um resumo fácil e entender os principais pontos e atualizações.

6. Peça à IA que redija fatores de risco para um setor específico
Novos riscos surgem o tempo todo e podem ser altamente específicos conforme o setor. Em vez de pesquisar manualmente sobre eles, a IA pode acelerar a geração de fatores de risco para divulgações. Vale lembrar que a IA generativa serve para complementar, não substituir a expertise. 

7. Apresentações podem ser mais impactantes
A IA também serve para criar a apresentação ideal, dá para apresentar uma reunião de orçamento ou revisão trimestral com um belo design, estrutura e até com um roteiro de fala que vai impressionar. Basta descrever o público (é seu chefe ou o comitê de auditoria?), o objetivo e indicar o que incluir nos slides.

8. Transforme transcrições em ações práticas
Todo profissional já participou de uma reunião e esqueceu tudo depois de outras que vieram em seguida. A IA pode ser a solução até para esse cenário, já que a maioria dos softwares de reunião já gera transcrições automáticas e esse texto pode virar um documento com destaques da discussão, desde que a IA seja acionada para tal tarefa.

9. Carta de recomendação profissional
Também é possível utilizar Inteligência Artificial para a própria evolução profissional, basta pedir apoio para treinamentos, ajuda na construção de um argumento de forma estratégica.

As empresas mais preparadas para colherem bons resultados com a IA são aquelas que estão investindo na integridade dos dados e no desenvolvimento da força de trabalho. À medida que a IA transforma as indústrias, a abordagem estratégica sustentada por uma base sólida levará à insights mais inteligentes e valiosos. A ferramenta está deixando de se tornar um diferencial competitivo e se tornando uma obrigação para estratégias financeiras eficazes. Os nove tópicos citados são simples, mas geram uma significativa economia de tempo e tornam as atividades humanas mais eficientes.

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