A doença é uma das principais causas para transplantes de córnea no Brasil
Junho é o mês de conscientização sobre o ceratocone, uma doença ocular que afina e deforma a córnea, comprometendo a visão e, em casos avançados, exigindo transplante. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 150 mil brasileiros são diagnosticados com ceratocone todos os anos, principalmente jovens entre 10 e 25 anos. O alerta faz parte da campanha Junho Violeta, que visa ampliar o diagnóstico precoce e prevenir complicações.
De acordo com dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), o ceratocone está entre as principais causas dos mais de 13 mil transplantes de córnea realizados anualmente no país. Só em 2023, foram mais de 16 mil procedimentos, e mais de 8 mil já foram feitos apenas nos primeiros seis meses de 2024.
“A doença costuma se manifestar no fim da adolescência e pode progredir até os 35 anos, quando tende a se estabilizar. Em casos mais severos, especialmente em crianças com alergias oculares, o ceratocone pode aparecer ainda na infância”, explica o oftalmologista Guilherme Rocha , especialista em córnea do CBV – Hospital de Olhos.
O ceratocone provoca uma deformação da córnea, que passa a ter formato de cone em vez de redondo, gerando visão distorcida, sensibilidade à luz e dificuldade para enxergar à noite. A progressão é muitas vezes silenciosa, e um dos primeiros sinais é a mudança frequente no grau dos óculos, especialmente aumento do astigmatismo.
“Quando a visão começa a piorar rapidamente e os óculos deixam de oferecer melhora significativa, é sinal de que algo mais sério pode estar acontecendo”, alerta Guilherme. “Além disso, o ceratocone pode afetar os dois olhos de forma assimétrica, sendo mais intenso em um deles.”
Diagnóstico e prevenção
Embora as causas exatas ainda não sejam totalmente conhecidas, estudos apontam para uma combinação de fatores genéticos, ambientais e comportamentais. Um dos principais vilões, segundo a especialista, é o hábito de coçar os olhos com frequência.
“O ato de esfregar os olhos pode agravar ou até desencadear o ceratocone, especialmente em pessoas com predisposição genética”, afirma o médico.
O diagnóstico é feito por exames que avaliam a curvatura e a espessura da córnea, como a topografia e a tomografia de córnea. A partir disso, é possível identificar a doença ainda em estágios iniciais e evitar sua progressão.
Tratamentos
O tratamento depende do grau de evolução, nos estágios iniciais, óculos e lentes de contato especiais podem resolver o problema. Em casos mais avançados, são indicados procedimentos como o crosslinking, que fortalece a estrutura da córnea, e o implante de anéis intracorneanos. Quando há comprometimento grave da visão, o transplante de córnea se torna necessário.
“Hoje há opções modernas e eficazes de tratamento, mas o diagnóstico precoce continua sendo a chave para preservar a visão e evitar procedimentos invasivos”, conclui o médico.